sexta-feira, 11 de novembro de 2011



Stockhausen, Momente [2]



Não escrevia eu ontem que, previsivelmente, o público iria borregar na Gulbenkian? Primeiramente, ao perceber que a assistência iria ser pouca, o meu amigo Ferreira, a exemplo do que costuma acertadamente fazer, mandou encerrar o balcão de maneira que o público desta zona, ao espalhar-se pela plateia, mais ou menos, comporia o aspecto da sala.

Enfim, a coisa ficou apresentável. Talvez tivesse ficado a meio da lotação, ou seja, umas quatrocentas pessoas. O pior é que, depois do intervalo, metade desta gente pirou-se. É absolutamente inqualificável e incompreensível. Como é possível alguém sair a meio da apresentação, pela primeira vez em Portugal, de uma obra excelente e quase mítica, com uma fortíssimas componentes biográfica e cénica, produto da criatividade de um dos mais extraordinários músicos do século vinte?

E, normalmente, esta gentinha é apresentada como uma elite, a elite da capital… Melómanos? Por amor de Deus!... Estou mais que habituado a cenas quejandas para me surpreender com o caso. Porém, lamento, continuarei a lamentar, inconsolável. É que, sabem, a Música que se faz em qualquer auditório é, também e sempre, a celebração da Arte e da Beleza. Assim sendo, custa muito perceber que, na esclarecida capital do país, a Música continue a ser assumida e consumida desta maneira, por gente tão ignorante e desqualificada.

A minha esperança é que, hoje, na repetição do programa, Momente, de Stockhausen, seja recebida de maneira diferente pelo público da tarde que, igualmente, conheço e reconheço como mais jovem, aberto e disponível. Enfim, além da minha pequena apresentação no texto de ontem, gostaria de assinalar o alto nível da prestação do coro e orquestra Gulbenkian, da solista soprano Julia Bauer e da direcção de Peter Eötvös, em articulação com Jorge Mata e Pedro Amaral.


Momento muito alto da programação da Gulbenkian. Momento de grande enriquecimento estético. Momento, mais uma vez, de me render a Stokhausen, por esta sofisticadíssima obra-prima, das mais incríveis e geniais celebrações do Amor, uma apoteose da saída do caos.



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